No final da década de 1970, quando a legislação ainda permitia que concursos para atuação nos tribunais de Justiça fossem realizados nas próprias comarcas, muitas possibilidades estavam abertas para um jovem diamantinense recém-graduado em Direito. Frente a uma decisão que impactaria todo o seu futuro, Carlos Eduardo César decidiu fazer jus ao lema pessoal alea jacta est (“a sorte está lançada”, em latim), jogou os dados e acabou seduzido pelo Registro de Imóveis.
E não faltaram tentações nesse caminho. Em sua passagem pelo serviço militar, recebeu um convite formal para integrar a Academia das Agulhas Negras, mas declinou. Tomado pelo desejo de tornar a atividade registral imobiliária mais profissional – e apoiado pelo então juiz da época, Armando Freire –, seguiu em frente com a missão de padronizar o cumprimento da legislação na cidade.
Filho de pai comerciante e mãe professora, começou como escrevente do RI de Diamantina e, em 1982, assumiu a titularidade da serventia. “Um pouquinho mais de 40 anos não é tão fácil de lembrar, né?”, brinca. Ao longo desse tempo, ele conta que tem sido testemunha viva não só das mudanças legislativas, mas também dos avanços tecnológicos vividos pela atividade. Sua primeira máquina de datilografia foi uma Olivetti, um equipamento de ponta da época. Na sequência, adquiriu uma semieletrônica. Por fim, chegaram os computadores, as centrais eletrônicas e os documentos digitalizados, em uma expansão jamais vista no Registro de Imóveis.
O oficial relata que tem sido um prazer conduzir por tanto tempo uma comarca histórica em Minas, com registros que datam de 1865, antes mesmo da independência do país. Uma trajetória de sucesso, marcada por uma escola tradicional de mentores de diversas regiões. Nomes como o dos registradores Nicolau Balbino Filho, que lhe apresentou o Instituto do Registro Imobiliário do Brasil (Irib), Eugênio Klein Dutra e Elvino Silva Filho, já falecido, são exemplos de referências eternizadas em sua memória.
Nessas quatro décadas dedicadas ao Registro de Imóveis de Diamantina, o reconhecimento pelo bom trabalho realizado veio em diferentes momentos. “Todos possuem um significado especial para mim”, diz. Como cidadão diamantinense, recebeu a Medalha Presidente Juscelino Kubitschek. Carinhosamente chamado pela população da região de ‘Tijucal’, o município de Presidente Kubitschek concedeu ao registrador o título de cidadão honorário. Pelo trabalho desenvolvido em dois mandatos à frente do Circuito dos Diamantes, foi honrado com o Colar do Mérito da Corte de Contas Ministro José Maria de Alkmim. Mas o maior dos prêmios conquistados em decorrência do trabalho realizado no cartório não está na estante.
O plano era comemorar os 40 anos de titularidade com o lançamento de um livro sobre Diamantina e região, sob a perspectiva do Registro de Imóveis. A pandemia, porém, impactou as atividades de tal modo que foi necessário dar mais atenção a outras questões. Isso, porém, não é um problema. Em uma serventia que há mais de 150 anos documenta diariamente o crescimento de Diamantina, muitos capítulos dessa história ainda estão sendo escritos.