Advinda do 1º concurso realizado em Minas Gerais, a oficiala conta um pouco de sua história e fala das suas expectativas para os próximos anos
Duas décadas podendo contribuir para o desenvolvimento da cidade da mãe, para a qual se mudou aos cinco anos e é apaixonada deste então. A trajetória de Ana Cristina Maia no Registro de Imóveis de Mariana é repleta de desafios, aprendizados, conquistas e contribuições ao município. Com uma liderança nata e sempre atenta às mudanças tecnológicas, ela foi responsável por modernizar e trazer inovações à serventia, além de desenvolver diversos colaboradores. Confira um pouco mais dessa história nesta entrevista especial com a presidente do CORI-MG:
CORI-MG: Como foi seu processo de chegada ao cartório de Mariana? Como foi participar do 1º concurso?
Ana: Foi uma batalha! O edital saiu em 1999, mas só fui assumir em 2004, devido a disputas judiciais. Foi o 1º concurso, e nós enfrentamos um período em que não havia uma estrutura forte, uma organização associativa. O CORI-MG ainda não existia, então, foi bastante difícil. Não tínhamos muito a quem recorrer para contratar e treinar funcionários. Foi complicado, mas no final deu tudo certo.
E como era Ana Maia de 20 anos atrás, recém-chegada ao Registro de Imóveis? Quais eram suas expectativas? Como avalia sua trajetória?
Quando olho para trás, fico pensando: “Como dei conta de resolver tudo aquilo?” (risos). É muito curioso como assumi o cartório. Eu trabalhava na Samarco e precisava assumir rapidamente. Lembro que saí da empresa por volta das três horas da tarde, ainda de botina de bico de aço – meu setor ficava dentro do almoxarifado. Então, cheguei ao cartório e disse: “Vim assumir!” Peguei os livros e o acervo e comecei a levá-los ao prédio novo. Não havia infraestrutura e não havia tempo, né? Recordo-me de ter pedido ao diretor do foro da época dois ou três dias para organizar o cartório, mas isso foi negado. Nada era possível! Tínhamos que fazer tudo na raça. Mas deu certo, né?! E foi maravilhoso! O Registro de Imóveis é uma vocação. Sou muito realizada profissionalmente e tenho um grande amor por esta profissão.
O que foi desenvolvido no cartório durante essas duas décadas? O que foi modificado ou criado?
Nossa, muita coisa mudou! Quando assumi, o cartório não tinha sistema informatizado, não havia indicador real ou pessoal. A maioria dos livros era escrita à mão, inclusive os livros de matrícula. Em 2004, o cartório não tinha sistema de fichas. Nada era digitalizado! Lembro que havia oito livros de registro de pessoas escravizadas, que são uma preciosidade histórica. Eles me foram entregues embrulhados em papel pardo, sem muita noção da relevância daquele documento. Fizemos parcerias com institutos de patrimônio histórico e artístico nacional, como o Iphan, que tem um escritório em Mariana, e com a autorização da direção do foro, transferimos esses livros. Além disso, implementamos sistemas na serventia, abandonamos os livros datilografados e manuscritos. Digitalizei todos os livros, incluindo os antigos de transcrição e de matrícula. Hoje, tudo é digitalizado. Fomos acompanhando o avanço da profissão, mas realmente havia um atraso que tivemos que superar quando cheguei.
Como você vê a importância do Registro de Imóveis de Mariana para o desenvolvimento do município? Além deste contexto histórico que você explicou, por exemplo, você é especialista em Reurb. Isso foi algo que você via como importante para a região ou era um sonho pessoal?
Os cartórios são muito interessantes porque são perenes. Enquanto a administração pública municipal é intercalada por mandatos e por políticos variados, de diversas matizes, o Registro de Imóveis está sempre ali, com muita técnica. Então, a própria história da cidade e seu funcionamento sempre foram acompanhados de perto pelo cartório. Dentro deste contexto, por exemplo, a Prefeitura, por vezes, perdia documentos, como loteamentos, desmembramentos, procedimentos de fusão, averbação de construção. Assim, funcionamos como um arquivo de segurança para o próprio município.
Temos, ainda, uma proximidade grande com a realidade da população e nos preocupamos em ser sempre um porto seguro para os usuários dos nossos serviços. A regularização fundiária vem nesta linha. Curiosamente, Mariana, tem um projeto municipal sobre o tema desde 2001. Logo que assumi, isso já estava acontecendo, e tive que correr atrás, mesmo sem uma legislação nacional naquela época. Enfim, a regularização fundiária entrou muito rapidamente na minha vida e segue até hoje.
Falando sobre seus colaboradores, qual a importância deles para o desenvolvimento do cartório?
As pessoas que trabalham no cartório são, de fato, o ativo mais valioso da serventia. Tenho a sorte de ter funcionários muito comprometidos, dedicados, corretos, honestos, competentes e fiéis ao compromisso público do Registro de Imóveis e ao atendimento à população. Eles têm plena consciência de que trabalhamos para o povo. Minha equipe é muito focada nisso. Sempre foi! Meus ex-funcionários são todos meus amigos. Sou madrinha de casamento de muitos, por exemplo. Alguns saíram para advogar na área imobiliária, outros assumiram cartórios diversos. Enfim, há todo tipo de sucesso advindo do Registro de Imóveis de Mariana. Sempre tive a sorte de trabalhar com pessoas muito preparadas, comprometidas e queridas, acima de tudo.
E como você imagina o cartório de Mariana daqui a 20 anos?
Esse é um exercício tão difícil, né? Será que vai ter cartório até lá? (risos). Será que não vai ser um monte de robôs que tomaram conta de tudo? Brincadeiras à parte, acho que nosso compromisso deve ser com a melhoria contínua em prol da população. Mesmo com auxílio da inteligência artificial ou de novas tecnologias, como smart contracts ou blockchain, continuo acreditando que o capital humano é sempre o principal. Então, é investir nas pessoas, no desenvolvimento delas e na excelência do atendimento ao público. Pretendo atender cada vez melhor, ser cada vez mais referência e sempre gerar inovação. Esse é o nosso compromisso!